Recolhi hoje do limpa-pára-brisas mais um flyer informativo. Este género de publicidade não é lá muito agradável ao seu alvo.
Para já assustam logo uma pessoa. Assim que entramos no carro vislumbramos um papel no limpa-pára-brisas e a depressão instala-se. Eu pensei logo “Mais uma multa?” mas depois verifiquei que era apenas uma publicidade. O meu coração descansou e a minha carteira suspirou de alívio.
Assim que estacionei a carrinha frigorífica à porta do Talho retirei o flyer. Era mais colorido que o último, logo chamou mais à atenção. O apelo visual é muito importante. Era uma publicidade a uma conferência pública sobre Autoconhecimento, o que por si já é bastante lógico por aparecer no limpa-pára-brisas da minha viatura automóvel.
É, hoje em dia, muito importante, o Autoconhecimento.
Porquê, Sr. Alfredo?
Ora, porque nunca sabemos quando é que a nossa viatura automóvel vai ter um problema e se tivermos um mínimo de Autoconhecimento pode ser que até nos desenvencilhemos da situação.
O motor faz barulhos esquisitos? Usando o Autoconhecimento identificamos a origem.
Os discos dos travões chiam? Com Autoconhecimento sabemos que precisamos de mudar as pastilhas.
Aparece uma luz estranha no painel? Sabemos logo qual o problema porque temos Autoconhecimento.
Tudo bem. Eu se quisesse ser mecânico tinha estudo na Universidade de Mecânica, mas optei pelo curso superior de Talho Aplicado. São opções. Mas um mecânico também é senhor de ter Carneconhecimento assim como eu tenho Autoconhecimento. Um mecânico sabe como cortar um pedaço de pá de porco e um entrecosto. Nos na vida temos de ser pluridisciplinares. Mas os mecânicos optam por fazer mais publicidade. Tudo bem. Não me ofende de maneira alguma. Mas de certo modo começo a desconfiar que é por causa destas palestras de Autoconhecimento que os carros demoram tanto tempo a ser arranjados.
“Ah. Isto é só mudar a correia de distribuição mas vai ter que ficar cá dois dias ou três porque entretanto ainda tenho aí outros serviços primeiro.” Pois. Esses serviços devem ser estas palestras de Autoconhecimento. Bem que as podiam guardar para outra altura.
A mim quando me encomendam 2 quilos de bifanas, 1 quilo de costeleta do cachaço e meio quilo de carne picada de mistura não digo à clientela: “Ah, tudo bem, mas entrego-lhe isso dentro de dois ou três dias porque tenho aí outros serviços primeiro.”, querendo dizer com “outros serviços” uma palestra de Carneconhecimento.
Outros flyers que vão aparecendo são de senhores que se denominam Mestres de isto e daquilo, ou então Professores. Mas agora acho que com a polémica da opinião pública sobre os Professores têm todos mudado para Mestres…que é Professor, mas à antiga.
Mas não se pode confundir um Mestre que dá consultas de Reiki com um Mestre que faz rezas para retirar o mau olhado. Não dá, sequer, para confundir.
Porquê, Sr. Alfredo?
Eu explico, mas já estás a ser um bocado chato com tanto “porquê”.
É uma questão de nome artístico. O Mestre das rezas e feitiçarias (eu sei que dizer “feitiçaria” é redutor, mas se quisesse ser redutor mesmo tinha usado bruxaria) usa um nome, vá, engraçado, que apela imediatamente a quem lê. Mestre Djapum, Mestre Mákoka, Mestre Karaçaspá. Nomes que levam ao místico africano, ao shaman do Shaka Zulu. Uma pessoa pensa logo que o Mestre é um indivíduo de cor (digo de cor, por ser o politicamente correcto, porque como diz um compincha meu, julgo que o Sousa, preto é ausência de cor, logo é errado dizer que é um indivíduo de cor. Mas outro colega, julgo que o Pereira, constatou e constatou muito bem que saudosos eram os tempos em que se podia chamar preto a um preto e ninguém se ofendia, tal como na publicidade do restaurador Olex. “Um preto de carapinha loira...” Abel Xavier é um caso à parte porque acho que o homem faz aquilo de propósito para ser gozado.) mas o nome pode ser um engano e o Mestre Kibunda, quando se vai verificar, é branco e o seu verdadeiro nome é Tiago Lopes.
Agora o Mestre do Reiki usa nomes sofisticados como Bernardo Costa ou Pedro Vasconcelos ou Frederico Soares, que quando vamos verificar são meros nomes artísticos de indivíduos que na realidade se chamam Déricleide ou Ricardentil ou Saboá Mué.
Até mais ver