quinta-feira, 29 de maio de 2008

E não é que...

Estou de volta.
Eu, como qualquer outro ser humano, também mereço férias. Como não faço parte daquela camaradagem toda que se junta naquela confraria chamada Assembleia da República, não consigo fazer do meu emprego férias.

Cortar “chicha” não é como estar com o rabo alapado numa cadeira enquanto se ouve um ou outro mandar umas postas de pescada sobre onde é que o governo está certo e onde é que o governo está errado. Nada disso.
A carne é uma matéria-prima que necessita de muita atenção e que tem de ser cortada com a maior precisão. Dizer mal ou bem do Governo qualquer besta consegue dizer. É só ligar a televisão na ARtv e vê-se logo que aqueles amigos nem precisam que ninguém de fora opine o que quer que seja sobre o governo, porque eles já fazem um lindo serviço no seu próprio enterro.

O País está no fosso. Não como a Birmânia, que está literalmente no fosso (ou na fossa, se preferirem), nem como a China, na qual se abriu um fosso (ou fossa, se melhor vos convier).
O País está no fosso, caros leitões. Ele é os combustíveis que não param de aumentar, ele é a crise no PSD que não pára de uma vez por todas, ele é a Vanessa Fernandes que não pára de ganhar provas, ele é as publicidades incessantes ao Euro 2008 que não param de encher a programação da televisão (mas pronto, assim o Rui Santos lá vai tendo emprego, pobrezinho… coitadinho, lá andava ele nos tascos, a beber tintos de penalti e a mandar “bitaites” sobre isto e aquilo da bola e lá alguém descobriu aquele talento dele de falar de futebol sem se cansar…), ele é os combustíveis que não param de aumentar (não me repeti…simplesmente já aumentaram mais uma vez só neste período de leitura).
E será que me apetece falar do que se passa no País? Não. Nem pouco, mais ou menos. Já me cansa. Aliás, deixo esse material para os comediantes que pelos vistos ultimamente só conseguem ter sucesso se fizerem humor em formato de noticiário e mencionarem pelo menos uma vez o Marques Mendes, o Alberto João Jardim e o Joe Berardo. E se souberem fazer imitações ainda mais engraçado fica. Ah ah ah…ah…ah...

Adiante.

Dei por mim a trautear uma canção de intervenção como daquelas que havia antes do 25 de Abril de 1974. Quer dizer… Não sei se era ou não uma canção de intervenção, porque a estava a trautear e não a cantar. Eu não sei cantar. Sei cortar carne! Por isso trauteio e não canto.
Mas o meu trautear pelo ritmo e compasso parecia uma canção de intervenção, mas sem letra. Mas se tivesse letra era uma letra de intervenção daquelas que está cheia de simbolismos antifascistas e metáforas contra o Governo regente. Mas não tem letra porque embora saiba escrever, não sei escrever letras para canções de intervenção. Sei desossar carne!
Seria uma canção como as do saudoso José Afonso (José porque Zeca era para os amigos dele e nós sabemos o que aconteceu a alguns amigos dele), ou do saudoso Paulo de Carvalho, ou do saudoso Sérgio Godinho, ou do saudoso Pedro Barroso.
Pois é. São músicos e canções que deixam saudade. Mas pronto. O que lá vai, lá vai. Das cinzas às cinzas, do pó ao pó. E embora alguns destes ainda não tenham tido o mesmo fim que o José Afonso, olhem que já o faziam, pois já nos devem uma Praça com o nome deles há algum tempo.

Mas isto fez-me pensar em certas canções de intervenção do pós 25 de Abril de 1974. Ah pois é. As canções de intervenção não acabaram assim que se fez a Revolução. Tanto mais porque havia cantores que não sabiam fazer mais nada senão canções de intervenção. E nessa altura ainda não se conseguia viver com “royalties” pelos “remixes” de discoteca.

Um exemplo óbvio dessas canções de intervenção do pós 25 de Abril é a canção vencedora do Primeira Gala Internacional dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz em 1979. Falo, está claro, da canção “Eu vi um sapo” cantada pela (na altura) pequena e saudosa Maria Armanda, cuja letra foi escrita por essa poetisa de intervenção, a saudosa Lúcia Guimarães.

Senão vejamos:

Eu vi um sapo, um feio sapo (referência óbvia à PIDE/DGS)
Ali na horta, com a boca torta (estava lá fora a observar e não estava a gostar do que estava a ver)
Tu viste um sapo, um feio sapo (TU viste, são os BUFOS a acusarem)
Tiveste medo, ou é segredo (medo de ser levado para interrogatório; segredo porque é melhor estar caladinho)

Eu vi um sapo, com um guardanapo (ou seja, o fascista a preparar-se para tirar o comer do povo)
Estava a papar, um bom jantar (porque os fascistas comiam bem, os pobres não tinham nada)
Tu viste um sapo, com um guardanapo (TU viste, diz o BUFO!; ali com o guardanapo, a babar-se, blheck!)
E o que comia, e o que fazia? (vá, conta! Vais preso para seres torturado!)

Eu vi um sapo, a encher o papo (ali a empanturrar-se e o povo a passar fome)
Tudo comeu, nem ofereceu (o fascista fazia assim: comia tudo, não deixava nada, já dizia o Zeca…ai! Porra! O José! O José!)
Tu viste um sapo, a encher o papo (TU viste, foi? Anda lá ali à esquadra contar isso. Anda.)
E o bicharoco, não te deu troco. (o fascista, gordo, mesmo muito gordo… nem umas moedinhas…nem olhou para ti, com nojo)

Eu vi um sapo, um grande sapo (viste o fascista, o nefasto fascista)
Foi mal criado, fiquei zangado (não digas isso! Sorri! Olha que vais preso!)
Tu viste um sapo, um grande sapo (mais uma vez…BUFO!)
Deixa-lo lá estar, vamos brincar. (vamos brindar o povo com brincadeira para o manter distraído e sem noção de como os fascistas o roubavam)
Eu vi um sapo. (viste um fascista? Chamaste-lhe “fascista”? Anda. Vamos conversar ali naquele beco escuro.

Brinde aos regressos.