Valha-nos a Santa Mãe!
Estive de férias! Finalmente. Uns dias de “dolce fare niente” só eu e a esposa. Foi uma maravilha. Por isso estive tanto tempo ausente das lides talhantes...foi só forrobodó!
Desta vez não fizemos muito passeio, mas mesmo assim foi bom.
No ano passado demos uns passeios pela Beira Litoral, ver as vistas, os castelos, provar a gastronomia regional (que surpreendentemente cada vez mais é pizza), ver mais monumentos, sítios importantes e outros menos importantes. O que interessa é que em Portugal tudo é lindo. Excepto Setúbal. E Vila Velha de Rodão em certos dias também cheira mal. Mas vá...são bonitos de uma forma peculiar. Peculiarmente mal-cheirosos.
Grande parte do roteiro foi feito pelas nossas maravilhosas Estradas Nacionais.
Quem diz “Epá. Nacional? ‘Tás é parvo. Eu curto é andar na bisga nas auto-estradias, man.” é porque é muito urso (sem ofensa aos ursos que conheço alguns e não têm culpa nehuma) e merecia espetar-se contra um lancil, sair pelo vidro, ficar de rabo para o ar e ser penatrado violentamente por aquelas luzes azuis e estúpidas que irritam a vista e incomodam quem está na estrada para conduzir e não para competir.
Andar nas nossas nacionais é um deleite...e não, não vou fazer nenhuma piada com a palavra “deleite”.
Vemos o interior, vemos as nossas frondosas florestas (ou o chamuscado que resta de algumas delas), as serras, as fontes e o melhor de tudo, as nossas localidades mais, mais, mais interinas! E não, não vou fazer uma piada com a palavra “interina”, estava-se mesmo a ver.
Temos localidades lindas, que de sua simplicidade transmitem calma e serenidade, com gente boa que sabe responder a um “Bom dia” e a um “Boa tarde” (a um “Boa noite” fiquei sem saber pois também é gente de se deitar muito cedo), com casas rústicas e com o belo do tasco onde servem cerveja fresquinha sem o olhar de desconfiança habitual das pessoas das cidades.
Mas o melhor dessas localidades, caros leitores, são os seus nomes. Sem dúvida, Portugal é cheio de pérolas. Então alguns são mesmo nomes que levam o mais sério dos passageiros a esboçar um sorriso, senão mesmo a gargalhar até lhe virem as lágrimas aos olhos, soltar uma ou duas pinguinhas de urina para a cueca e de vez em quando largar um “flato”.
Eu sei que este é um assunto já focado vezes demais. “Pois. Olha outro a gozar com o nome das localidades.”, “Ó amigo, essa já é velha.”, “Usar vírgulas entre aspas fica esquisito, ó bacano.”...
Mas calma. Isto tudo foi só o build-up. A punchline vem agora, já na próxima frase.
Ou será o punchline? Bem. Não interessa.
Durante esse passeio, a esposa e eu passamos por Fátima, bonita localidade e lugar de culto para muito peregrino. Nós não somos muito devotos, mas gostamos de ver as vistas e aquilo do santuário até que está engraçado.
Mas o santuário de Fátima levou-me a pensar em muita coisa. Uma delas foi que nunca tinha visto tanta carrinha de venda de farturas por metro quadrado. Outra foi indagar sobre a própria aparição de Nossa Senhora.
Não estou a por em causa se ela apareceu mesmo frente à Lucy, à Jacy e ao Chico. Nem me interessa entrar nesse campo. Cada um acredita no que quer. Aparições de Nossa Senhora, o Benfica ganhar dois campeonatos seguidos, aumento das reformas...no que quiser.
A minha indagação é porque é que Nossa Senhora foi aparecer ali? Questões logísticas? Será que Ela já tinha em mente que ali ia ser um bom sítio para construir um santuário em Sua homenagem? Ou será que aqueles terrenos eram do interesse de terceiros que queriam em vende-los para tal efeito?
Isto levou-me a pensar “E se Nossa Senhora tivesse aparecido na Ota?” Pois é. Muito provavelmente agora discutir-se-ia a construção de um novo aeroporto em Fátima.
O pessoal que tem os terrenos na Ota é que não ia ficar muito contente.
“Ah, apareceu aqui a Nossa Senhora e vamos ter que construir aqui um santuário.”
“Oh. Mas que chatice. Mas porque raio não apareceu Ela em Fátima? Lá é que há bons terrenos para santuários. Aqui, pelo tipo de terreno, é mais coisa de segundo aeroporto.”
Mas esta é uma questão pertinente. Porque foi ela aparecer em Fátima? Logo em Fátima.
Há tanta localidade em Portugal, porquê logo em Fátima?
Ela foi esperta. Ora pois. Fosse lá ela aparecer um pouco mais ao lado, no concelho de Ourém e não teria sido ela chamada Nossa Senhora dos Currais!
Ou teve muita sorte ou foi muito esperta. É que com a quantidade de nomes de localidades que temos, Nossa Senhor teve mesmo muita sorte ter aparecido onde apareceu, ou não fosse ela chamar-se:
Nossa Senhora da Picha (Pedrogão Grande);
Nossa Senhora da Vendas das Raparigas (Alcobaça);
Nossa Senhora d’A-da-Gorda (Óbidos);
Nossa Senhora de Lavacolhos (Fundão);
Nossa Senhora de Picheleiros (Setúbal);
Nossa Senhora de Espelgases (Odemira);
Nossa Senhora da Coina (Barreiro);
Nossa Senhora de Nariz (Aveiro);
Nossa Senhora do Casal do Pinhal (Sintra);
Nossa Senhora de Toca do Rabo (Vila do Bispo);
Nossa Senhora do Rablongo (Idanha-a-Nova);
Nossa Senhora do Rabito (Guarda);
Nossa Senhora do Rabinho (Fundão novamente);
Nossa Senhora de Rabadela (Vila Nova de Famalicão);
Nossa Senhora de Entrabum (Monchique);
Nossa Senhora de Lamama (Paredes de Coura);
Nossa Senhora do Moinho da Mama (Arraiolos);
Nossa Senhora da Palhaça (Oliveira de Bairro);
Nossa Senhora de Engano (Odemira novamente);
Nossa Senhora de Ranholas (Sintra novamente);
As possibilidades são inúmeras. Agora tentem ver como é que ficavam essas localidades se tivessem “Santuário” escrito à frente. É o que vos digo. Foi um milagre, sim senhor. Foi um milagre Ela ter aparecido em Fátima.
Voltem sempre. Desculpem o incómodo.