quinta-feira, 12 de junho de 2008

Alta Entrevista

O que é que o Sr. Alfredo do Talho tem a dizer sobre este bloqueio dos camionistas?

O que eu tenho a dizer é que fizeram eles muito bem em bloquear. Ora se porventura os camionistas decidissem parar os seus grandes, pesados e ameaçadores camiões mas não os bloqueassem, tenho a certeza que a coisa não corria assim tão bem. Imaginem só se um dos camionistas não bloqueava o seu camião numa daquelas descidas manhosas que tanto há nas nossas estradas! Era ver o camião desgovernado a abalroar tudo o que lhe aparecesse à frente.

O Sr. Alfredo do Talho sabe que um camionista morreu atropelado por um camião. Que tem a dizer sobre isso?

É a lei da Natureza. Tenho muita pena, porque é menos uma boca a comer carne, porque convenhamos que para se ser camionista tem de se comer CARNE! Agora um camionista que não come CARNE é meramente alguém a fazer-se passar por uma coisa que não é.
Mas como dizia, é a lei da Natureza. Quantos domadores de leões não foram atacados e mesmo mortos pelos seus próprios leões? Quantos apicultores não foram picados pelas suas abelhas? Quantos toureiros não foram já para casa com um enorme eczema provocado por aquelas calças justinhas? É a lei da Natureza.
Aquele senhor lidava com camiões e acabou por perder a vida às mãos de um camião…ou rodas.
Pode parecer cruel, mas tanto quanto sei esse senhor estava do lado de fora do camião, agarrado a um dos espelhos. Ora, toda a gente sabe que isso não está correcto. Um camião não é como um cavalo ou uma mota. Num cavalo ou numa mota, justifica-se andar do lado de fora, agora num camião…O camião tem cabine para se andar lá dentro, tal como o carro, o helicóptero e aquele rinoceronte que aparece no Ace Ventura 2.

Então e o que acha da prestação de Portugal neste Euro 2008?

Tenho acompanhado, sim senhor. E custou-me muito o primeiro jogo porque ainda sou 1/16 Turco.
Mas para mim o futebol perdeu a graça toda já há muito tempo desde que os jogadores passaram a ser em maioria metrossexuais.
Agora é só penteados malucos e barbinhas aparadas cheias de ângulos artísticos. Agora são cabelos com nuances ou madeixas ou cristas…
O futebol perdeu muito desde que o bigode caiu. E acho que o próprio Toni notou isso quando esteve a comentar agora este jogo contra a República Checa. Faltam ali umas bigodaças aparadas abaixo do lábio inferior. E uns cabelos à jogador argentino. Sim, tal como o Futre e o Fernando Couto usavam. Acho que o Fernando Couto ainda usa.
É certo que na altura em que havia mais bigodes na Selecção Portuguesa não ganhávamos jogos como temos ganho ultimamente, mas…mas desde quando é que isto se tornou obrigatório ganhar jogos nos campeonatos de futebol? Tanta competição, Jesus.
Antes era pela alegria. Jogava-se e depois havia comes e bebes com rissóis de camarão, pastéis de bacalhau e um garrafão de bom tinto. Claro que havia laranjada para quem não bebesse vinho.
Agora com este sentimento de competição e metrossexualidade no futebol acho que os campeonatos perderam aquele encanto que havia há uns anos atrás.


É a primeira vez que o Sr. Alfredo do Talho aceita fazer uma entrevista. O que acha deste formato?


Jesus! (risos) É verdade. A primeira vez. E logo a ser entrevistado por uma personalidade conhecida em todo mundo. É uma honra para mim.
Nunca fui muito de aceitar entrevistas porque não tenho jeito nenhum para dar respostas. Tenho sempre receio que as minhas respostas sejam mal interpretadas ou que se retirem segundos sentidos daquilo que eu digo.
Muitas vezes os repórteres e jornalistas têm essa tendência a pegar numa palavra e fazerem logo um burburinho sem necessidade.
O nosso Presidente disse “dia da raça” foi logo ali um corrupio. Imagino se o homem tivesse dito algo como “A Paula Rêgo usa muito preto.”
Era logo “Aaah…O Presidente disse preto…Aah…como é que é possível?”
O Presidente já não pode dizer coisas como: “O episódio do Seinfeld que eu mais gosto é o do Nazi das Sopas.”
Os repórteres tiravam logo coisas do contexto: “Presidente da República mencionou o Nazismo num dos seus últimos discursos”
O Cavaco já não pode dizer coisas como: “Comprei um sofá em segunda mão. Encontrei-o numa loja e num estado completamente novo”
Os jornalistas vinham que nem abutres: “Cavaco anuncia que vai trazer de volta o Estado Novo”.
Jesus! Não quero que isso me aconteça. É por essa razão que nunca respondi a uma entrevista. Mas visto que ia ser entrevistado pelo filho do Todo-Poderoso, não podia recusar, Pá! Não Te esqueças de escrever Pá com P maiúsculo porque é assim como Te tratamos cá em baixo. Tratamos-Te com maiúscula.

Eu é que agradeço o tempo disponibilizado para esta entrevista, Sr. Alfredo do Talho. Algumas últimas palavras?

(risos) Tu, Pá. Não deixas escapar nenhuma. És mesmo engraçado. “Ah e tal, sou Jesus, ‘tás a ver. Tens algumas últimas palavras?” (risos)
É que isso vindo de Ti até parece que me vais levar para o Outro Lado. Assim com a luz branca e o coro de anjos. (risos) Grande Maluco este Jesus.
Mas deixo aqui um beijinho e um abraço e um estalo no cachaço a todos os meus leitores e leitões que me têm acompanhado aqui através deste estabelecimento.
Obrigado pela entrevista. Espero que te tenha ajudado em alguma coisa e olha. Dá lá um abraço ao teu pai. Diz-Lhe que vais da minha parte.

In Mensageiro dos Céus, 2008