terça-feira, 28 de outubro de 2008

Não há cá fé... Mas há cá cau!

E é com este título de um humor ao nível dos trocadilhos do muito saudoso Marco Horácio (Deus o tenha lá, ao seu lado direito) que começo esta nova crónica. Pelo menos é uma piada tipo Marco Horácio e não uma moribunda tentativa humorística tipo Camilo de Oliveira, que Deus Nosso Senhor o guarde.

Há dias celebraram os 60 anos de carreira no humor desse senhor. Só 60? Pareceu-me uma eternidade. Ainda parece. Só não percebo a parte da “carreira no humor” a não ser que já estejam a apontar para uma homenagem a título póstumo quando ele realmente tiver piada do lado de Lá.

Mas Camilo de Oliveira, embora um, vá, chamemos-lhe humorista, à falta de uma nomenclatura mais indicada…embora um humorista fraquinho é também um dos entertainers portugueses mais amigo do público. Todos os programas dele têm num ou noutro lado do título o nome dele. Temos o “Camilo na Prisão”, “Camilo & Filho” e por aí. Assim as pessoas já sabem que o programa é de facto com ele e não precisam de perder o seu precioso tempo a ver um programa humorístico que falha em todo o seu propósito.

Aliás, os programas do Camilo de Oliveira são tão fracos que houve alturas que o próprio “laught track” do programa teve um esgotamento nervoso.

“Ah ah ah. O Sr. Alfredo do Talho por vezes é tão mauzinho e maroto com as pessoas. Pare lá de bater no ceguinho e explique-nos lá a escolha desse título tão bem humorado.”

Tudo bem. Vou parar de bater no ceguinho porque isto depois de duas ou três cacetadas também já perdeu qualquer piada. Os ceguinhos estão já muito batidos e não apresentam novidade nenhuma. Nada como fazer tropeçar um coxo. Isso sim é diversão que nunca acaba. Para toda a família. Faz tropeçar um Coxo. Da Concentra.

Fé. Religião. Credo. Que horror. Uma aranha. Como talhante que sou, lido todos os dias com o tecido da própria existência. Falo da carne, é óbvio. Quando estou a desmanchar um porco, penso muitas vezes “Seremos apenas isto? Seremos apenas carne? Seremos apenas 4kg de entremeada, 2 kg de costeleta, 3 kg de bife, meia dúzia de salsichas e 2,5kg de lombo?”

É claro que somos mais do que isso. Aliás muito mais se contarmos com os outros enchidos e mais vísceras e muito mais. Mas será que existe algo mais do que a carne?

A fé é uma coisa complicada de se falar ou de explicar e eu aborreço-me com facilidade, por isso não vou filosofar sobre isso. Vou antes contar um episódio que me aconteceu.

No outro dia (não interessa quando ou de dar datas muito especificas, que é uma coisa que por exemplo se faz muito na Bíblia) estava a ler umas coisas sobre aparições de cariz religioso e deparei-me com as já famosas aparições de Jesus Cristo em torradas e da Virgem Maria em tostas mistas. Este acontecimento abalou a minha fé.

Primeiro, porque tenho ideia que essas duas entidades são entidades benéficas e não vejo nada de benéfico em pagar uma torrada ou uma tosta mista, que são caras, e depois acabar por não comer visto a ter lá aparecido a cara do Senhor ou da Senhora. Sé é de extrema rudeza tirar a comida da frente de quem a está a comer que considerar de alguém que aparece na comida das pessoas?

Segundo, porque acredito que, se Jesus ou sua mãe, Maria, quisessem aparecer a quem quer que fosse não iam escolher torradas ou tostas mistas. Porque comida? É estúpido. Depois de todos os brilharetes de aparições em arbustos em chamas ou por cima de oliveiras, aparições muito mais elaboradas, agora iam resignar-se a aparecer em comida de pequeno-almoço e lanche. No mínimo apareceriam na comida do almoço ou do jantar. Sempre tem mais substância.

Cristo e Maria agora aparecem em todo o lado. Talvez alguma dessas aparições até é correcta. Quem sou eu para duvidar? Nenhum de nós está livre de ser um dos iluminados pelas aparições. Eu próprio acho que já fui iluminado por uma aparição.

Lembro-me de ouvir na catequese que por várias vezes o Espírito Santo apareceu a Jesus e a outros sob a forma de uma pomba branca, que lhes vinha a anunciar sempre qualquer coisa, ou que estavam em perigo, ou que deviam rezar mais, ou que havia uma promoção de cervejas no hipermercado mais próximo.

Eu acho que o Espírito Santo também me veio visitar sob a forma de pombo, mas como eu não estava decidiu deixar uma mensagem com a cara de Cristo mesmo na capota do meu carro.

Fiquei sem perceber o que é que o Espírito Santo me queria. No entanto desconfio pelo estilo de mensagem que deixou que devia ser alguma forma de publicidade. Mas pode desistir. Já sou cliente da Caixa há muitos anos e não tenho nenhuma razão de queixa ou intenção de mudar.

Amen…doins.