quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

O dia em que Portugal cismou

Estava eu muito bem a cortar um entrecosto aos pedaços, quando o Pedrito da padaria “O Forno” (que tem o cartaz vandalizado pela garotagem e alterado para "O Porno"...estes garotos!) entrou-me pelo talho adentro e disse qualquer coisa que a princípio me soou logo estranho, isto porque o rapaz é cicioso. É difícil transcrever correctamente aquilo que o rapaz disse em escrita ou sequer foneticamente, mas posso tentar. É que para além do ciciar do rapaz ele também estava ofegante e assustado.

Não é que a padaria seja longe do talho, porque não é. Mas estamos separados por uma Nacional muito transitada e a passadeira mais próxima fica na vila mais próxima. Daí o rapaz arriscar-se a atravessar a estrada de cada vez que quer falar comigo.

Mas faz-lhe bem. Ele é jovem e visto que o dinheiro não dá para mais, esta é uma modalidade radical que lhe custa pouco. E também o ajuda no seu problema de peso. Nada como uma corrida à frente dum camião TIR para ganhar uma dose de adrenalina e perder uns quilinhos a mais. E o risco de ser atropelado, estará o leitor a perguntar (sim, porque só tu é que estás a ler isto, Pedrito, mais ninguém…e vê se largas o computador do teu primo que ele quer fazer os trabalhos da escola).

Pergunta muito bem. Não há qualquer problema para o Pedrito. Há sim é para as viaturas. O Pedrito é robusto (leia-se gordo) e se levar uma panada dum carro é o carro que fica a perder. O Pedrito, digamos, é quase um javali. E aqueles dentes enrolados também não ajudam muito a disfarçar. Os dentes enrolados são também a principal causa do impedimento de fala que ele tem. A maior tristeza dele é não poder ir à caça. Atravessar a Nacional super-transitada é uma coisa, agora arriscar-se a levar um balázio quando confundido com um javali já é mais grave.

Pois…e que raio é que o rapaz disse? Vamos lá ver se consigo transmitir por escrita. Aqui vai:

Ó Thô Alfêdo! Thô Alfêdo! Dá viu ithto? Não thentiu natha? Tava eu thothegatho lá na patharia e não é que cométha tutho a thremer. Era ver oth papothecos a cair pó thão, oth thenteioth a ethcorregar dath prateleirath. Thepoith ouvi na telefonia, uma interrupthão no programa do Thenhor Thérthio Athith, a dither que tinha thitho um thithne!! Eu dá tinha thito ao meu pai que o thithne é um doth patoth maith parigóthoth. Aintha é pior que oth gatoth. Não the confetha. É um bitho que volta e meia the pode virar contra o theres humanoth, tipo o homem e afinth. Na ráthio thitheram que tinha praí thinco quiloth e theithentas…thevia ther cá um boi, ó Thô Alfêdo. Thitha!!!

Agora imaginem isto ao dobro da velocidade e com o rapaz ofegante da corrida que tinha dado para se desviar de dois camiões TIR, um Clio, uma Pick up, um Corsa e o Aixam do Compadre Zé Fréches que se põe a acelerar naquilo como se não houvesse amanhã e sempre bêbado. O Pedrito não a tinha fácil.

Traduzindo o que o rapaz queria dizer:

Ó Sr. Alfredo! Sr. Alfredo! Já viu isto? Não sentiu nada? Estava eu sossegado lá na padaria e não é que começa tudo a tremer. Era ver os papo-secos a cair para o chão, os centeios a escorregar das prateleiras. Depois ouvi na telefonia, uma interrupção no programa do Sr. Sérgio Assis, a dizer que tinha sido um cisne!! Eu já tinha dito ao meu pai que o cisne é um dos patos mais perigosos. Ainda é pior que os gatos. Não se confessa. É um bicho que volta e meia se pode virar contra os seres humanos, tipo o homem e afins. Na rádio disseram que tinha para aí cinco quilos e seiscentas…devia ser cá um boi, ó Sr. Sr. Alfredo. Xiça!

Levou logo um calduço. Ora, o mariola do rapaz a dizer que eu devia ser um boi! Já não há respeito. Boi é ele! Boi, burro e javali! É que ainda por cima queria enganar-me.

Vim depois a saber que não tinha sido cisne nenhum, mas sim um sismo. E depois expliquei-lhe ontem e ele nada! É que é mesmo bruto. Disse que eu é que andava a “sismar”. Levou mais um calduço! Anda-me a perder o medo! Estou a ver que ainda tenho que fazer uma queixa ou outra ao pai dele.

Cisne, sismo ou cisma, o certo é que Portugal tremeu um bocadinho. Devia ter muita água no capote.

Até à vista.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Sons do meu tecto

Pois é. E já estamos em Fevereiro. E já há 5 dias. De facto é um mês que corre muito depressa. Quando damos por ele já vai no 5º dia. Pelo menos a mim parece-me. Opiniões podem divergir.

Ora com este início de, já por si, nada de jeito vamos ao tema título que muitas indagações terá provocado. Indagação, para quem não vê a 2: ou muda para a TVI quando o Professor Marcelo está a falar sobre si disfarçando com uma camada de altruísmo, é, e passo a referir, uma especulação. Agora, uma especulação não é, e isto vai para aquelas pessoas que foram ao Doutor por causa de uma tosse convulsa e normalmente acompanhada de mucosa, expectoração. Mas expectoração é sem dúvida uma pasta amarelada que se forma ao longo da traqueia e que quando puxada se transforma no tão malfadado “escarro”. “Escarro”, talvez do latim “escarreta nojentis” é útil para concursos de “quem atira mais longe” ou “quem acerta em quem”, concursos também conhecidos como “Arremesso à distância” e “Paintball dos Pobres” respectivamente.

Sim…é de facto crónico. Estou sempre a divagar e a deambular por outros caminhos que não a questão pertinente, mas isso deve-se ao facto de que eu tenho nada de jeito para dizer sobre muita coisa.

Mas vá, vamos ao tema/título. Primeiro, o que é um Síndroma? Ao certo não sei. Mas é um termo técnico da ciência. No dicionário diz que é um substantivo feminino e remete-nos para Síndrome. Já em Síndrome a história complica-se pois tem aplicações em muitos campos. E há muitos Síndromes. O de Down, o do Golfo o pré-menstrual, o de Balint, o de imunodeficiência adquirida, o comocional…são quase tantos como receitas de bacalhau. Mas seja Síndrome ou Síndroma ou até mesmo Sindroma, aquele do qual quero falar é um que eu inventei.
Síndroma de Vizinhos de Cima. Ainda sem patente.

Sofrem deste Síndrome os ditos Vizinhos de Cima. A meu parecer, quando alguém mora no andar de cima começa logo a padecer dos efeitos destes sindroma. Começa com coisas simples como o arrastar móveis a toda a hora, o deixar cair talheres e ou tachos no chão de mosaico, o ligar a aparelhagem em alto som na rádio mais foleira ao Sábado de manhã. Os sintomas são múltiplos. Mas o pior deles é os saltos altos no mosaico repetidas vezes em todas as divisões da casa. O vizinho de cima que padece do Síndroma, quando chega a casa não muda para chinelos. Muito pelo contrário. Se for um casal, com um ou mais filhos, quando chegam a casa descalçam os chinelos e mudam todos para sapatos de tacão alto. Parece que no andar de cima, todos os dias é a feira da Golegã (feira do Cavalo, para esta piada não passar ao lado). Mesmo que mudem para chinelos, o Vizinho de Cima tem que ter daqueles chinelos de praia, dos “de enfiar no dedo” que são aqueles que mais barulho fazem e constantemente se ouve “flap, flap, flap, flap” durante o dia. E estes são apenas alguns dos sintomas. Embora seja o próprio Vizinho de Cima a padecer deste Síndrome, são aqueles que os rodeiam (neste caso, quem mora no andar de baixo) que mais sofrem com esta doença. E quando chamado à atenção desta condição, o Vizinho de Cima ainda mais ímpeto dá ao seu trote.

Muitos, como eu, vivem em condomínio, e muitos, como eu, têm o azar de viver em andares rasteiros. Em casas onde o isolamento é cada vez mais precário devido aos materiais que os empreiteiros não usam na construção de modo a conseguirem mais algum para sua ajuda auto-humanitária, torna-se um pesadelo viver perto daqueles que sofrem o Síndroma de Vizinho de Cima. E não há nada a fazer senão aguentar. Nem campanhas, nem referendos, nem rastreios, nem bater de porta em porta a oferecer calendários da instituição acolhedora em troca “do que puder dar”, mesmo mostrando um certificado que garante que não estão ali a enganar ninguém, nem debates no “Prós e Contras. Não se pode fazer nada.

Até ao dia em que aparecer um surto de Vizinho de Baixo e os doentes com o Síndrome de Vizinho de Cima apanhem uma Porradite Crónica.

Cuidado.